segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Alessandro Zanottelli - Uma Igreja empenhada contra o armamento

                                            Foto Miguel Madeira / Público

Foi forçado a sair de Itália depois de pressões dos partidos e do Governo sobre os responsáveis da Igreja Católica. A imprensa italiana falava dele como o missionário «mais incómodo» de Itália.
Diz que o planeta está entre a vida e a morte, por causa das armas, da fome e do estilo de vida ocidental. Ou nos salvamos todos ou morreremos todos, alerta.
Alessandro Zanotelli, nascido em Agosto de 1938, em Livo (Itália), foi director da revista Nigrizia, dos Missionários Combonianos de Itália, entre 1978 e 1987, cargo que teve que abandonar por pressão do Governo italiano e do Vaticano. Defende uma Igreja Católica mais empenhada na não-violência activa, retornando aos primeiros séculos do cristianismo, em que os cristãos eram colocados perante o dilema: ou o Exército ou o baptismo.
Depois de empurrado para fora de Itália, o padre Zanotelli viveu 12 anos em Korogocho, nome que na língua kikuyo quer dizer confusão, babilónia, e designa um enorme bairro de lata de Nairobi (Quénia). Apesar da miséria, da sida e do subdesenvolvimento, diz que África ainda acredita que a vida pode vencer todos os obstáculos, não obstante os enormes problemas.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Feisal Abdul Rauf - É um perigo falar em «choque de civilizações»

                                                                                       Foto Enric Vives-Rubio / Público

A mesquita do xeque Feisal Abdul Rauf estava perto das Torres Gémeas quando estas foram atacadas. Após os atentados, muitas pessoas perguntaram-lhe o que poderiam fazer para melhorar o conhecimento entre islão e Ocidente. A pergunta deu origem à Iniciativa Córdova, da qual é o impulsionador.
Feisal Abdul Rauf, nascido em 1948, é um muçulmano sufi, que desde 1983 tem a responsabilidade da mesquita Masjid al-Farah, em Nova Iorque, localizada na zona doWorld Trade Center.
Preocupado com o diálogo entre o islão e o Ocidente, Abdul Rauf é autor de vários livros sobre a fé muçulmana no mundo contemporâneo, entre os quais What’s Right with Islam Is What’s Right with America (O que está certo com o islão está certo com a América). Em 2010, Rauf esteve envolvido na polémica sobre a construção de um centro cultural islâmico na zona do Ground Zero, em Nova Iorque, iniciativa que ele propôs como forma de ajudar a construir o diálogo inter-religioso.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Gianni Vattimo - O meu problema de cristão é que a Igreja me escandaliza

                                                                                                                Foto Público

Comunista, marxista, católico, homossexual. O filósofo italiano Gianni Vattimo diz que é possível o encontro entre o niilismo de Nietzsche e o cristianismo. Mas afirma que a Igreja lhe cria vários obstáculos à fé.
Nascido em Turim em 4 de Janeiro de 1936, Gianteresio (Gianni) Vattimo doutorou-se em Filosofia, tem trabalhado a questão do retorno ao religioso e o pensamento de Nietzsche. Leccionou desde 1964 na Universidade de Turim e foi também professor convidado em várias universidades dos Estados Unidos. Foi deputado ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2004 e exerce de novo o cargo na actual legislatura (2009-14).
Em português, há vários livros seus publicados precisamente sobre estes temas, incluindo Acreditar em Acreditar (ed. Relógio d’Água) e O Futuro da Religião (em diálogo com Richard Rorty, ed. Angelus Novus). Em 2006, publicou Non Essere Dio, uma autobiografia contada em diálogo com Piergiorgio Paterlini.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Juan José Tamayo - A Igreja tem que ser o mais democrática possível

                        Foto: Miguel Madeira / Público

A atitude inflexível da Igreja provoca uma ruptura, um choque e um corte de pontes dentro da Igreja  Católica, diz o teólogo espanhol Juan José Tamayo. Defendendo a necessidade de uma maior democratização da Igreja, Tamayo diz que «os cardeais não são de instituição divina, a comunidade cristã, sim». E pergunta: «Porque só eles podem eleger o Papa e se exclui a comunidade cristã?»
Nascido em 7 de Outubro de 1946, em Palência, doutorado em Teologia em Salamanca e professor de várias universidades, Tamayo é membro destacado da Associação de Teólogos João XXIII.
Autor de duas dezenas de livros, é colaborador regular de vários jornais, entre os quais o El País.
Casado, pai de dois filhos, Tamayo viu algumas das suas teses condenadas pelo Vaticano. Mas o teólogo diz que a Cúria Romana leu mal o que ele escreveu… Entre os seus títulos, Juan José Tamayo publicou Hacia la Comunidad, obra em seis volumes, Adiós a la Cristiandad e Nuevo Paradigma Teológico (ed. Trotta), que levantou alguma polémica.
Nesta última obra, defende o adeus à teologia dogmática. «Estamos no fim de um ciclo teológico, marcado pela teologia fundada em dogmas; a proposta é um novo paradigma teológico, no qual o primeiro desafio é o da interculturalidade, uma teologia que não se sustente em categorias ocidentais», diz, a propósito da sua obra. «O segundo é o do horizonte inter-religioso: não se pode fazer teologia como se vivêssemos em tempos de uma religião única; as manifestações de Deus na história são plurais: Deus não se manifestou apenas através de Cristo, mas através de outros mediadores e fundadores religiosos, e através de outras manifestações». Teses que lhe valeram críticas do Vaticano.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Jacques Arnould - Se Deus queria criar outros mundos habitados, quem o pode impedir?

                                                                                     Foto: Gonçalo Português / Público

Padre dominicano, o francês Jacques Arnould trabalha desde 2001 no Centro Nacional de Estudos Espaciais. Diz que é preciso que as religiões não tenham medo da ciência mas que mantenham o espírito crítico para com o trabalho científico. E não tem dúvidas em dizer que nunca se demonstrará se Deus existe ou não.
Voltar a misturar teologia e ciência seria «um erro grave», afirma Jacques Arnould, nascido em 1961. Com formação em Engenharia Agrícola e doutorado em História das Ciências e Teologia, é membro da Ordem dos Pregadores (frades dominicanos). Arnould fala aqui sobre a teologia depois de Darwin, o criacionismo e o intelligent design.
Refere-se ao encontro do Papa com os antigos alunos (cujas actas estão publicadas em Criação e Evolução, ed. Univ. Católica), visto por alguns como uma tentativa de reabilitar o criacionismo. Autor de várias obras, tem publicado em Portugal A Teologia Depois de Darwin (ed. Piaget).


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

René Samuel Sirat - Há risco de choque de civilizações, se não se tomar a sério a necessidade de diálogo

                                   Foto Enric Vives-Rubio / Público



Uma espécie de G-8 de líderes religiosos poderia ajudar a resolver problemas como a fome nomundo, a penúria de água ou o emprego para todos. René Samuel Sirat, vice-presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, diz que o diálogo inter-religioso tem ainda muito caminho para fazer.
Nascido na Argélia em 1930, René Samuel Sirat desempenhou já o cargo de rabi-chefe de França, entre 1981 e 1987, estando envolvido em várias estruturas internacionais do judaísmo e do diálogo inter-religioso.
René Sirat esteve já várias vezes em Portugal — em 2000, participou no encontro internacional da Comunidade de Santo Egídio, em Lisboa, e em 2008 interveio no colóquio da Comissão da Liberdade Religiosa. A sua preocupação é alertar para o risco do choque de civilizações, se o diálogo entre culturas e religiões não for levado a sério.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Azim Nanji - É importante acabar com a ignorância entre muçulmanos e ocidentais

                                                                    Foto de Enric Vives-Rubio / Público

Há uma grande ignorância sobre a história, o pensamento, a cultura e as civilizações muçulmanas no Ocidente, diz AzimNanji, investigador e historiador muçulmano ismaili. Nanji defende que o pluralismo existe desde sempre entre a comunidade muçulmana.
Director do Instituto de Estudos Ismailis, em Londres (da Rede Aga Khan), entre 1998 e 2008, Azim Nanji nasceu em Nairobi (Quénia). Já leccionou em universidades dos Estados Unidos e do Canadá e é autor de diversas obras sobre a história do islão e sobre os ismailis, entre as quais o recente Dicionário do Islão.
Na Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, Nanji está encarregue também de vários projectos. Entre eles, está o programa Madrassa, na África Oriental (Quénia, Tanzânia e Uganda), que procura dar educação básica a crianças pobres de diferentes etnias e religiões.

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Andrea Riccardi - Pio XII somatiza o catolicismo dos anos 50, com as suas debilidades, a sua força, as suas contradições

                            Foto: David Clifford / Público

Um dos historiadores que mais têm investigado a época e o pontificado de Pio XII, Andrea Riccardi diz que aquele Papa «escolheu fazer condenações indirectas e tentou fazer da Igreja um espaço de asilo aos perseguidos e de mediação diplomática». Admitindo que «outros papas teriam sido mais fortes», Riccardi mantém que, apesar disso, está convencido de que «Pio XII não tinha simpatia pelo nazismo».
Presidente da Comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi é autor da obra O Martírio do Século (ed. Quetzal), sobre as perseguições aos cristãos durante o século XX. O resultado é um fresco impressionante: Riccardi diz que pode calcular-se em três milhões o número de pessoas mortas só por terem fé.
Entre os seus livros, incluem-se ainda títulos sobre a época de Pio XII e a II Guerra Mundial (para outros elementos sobre a sua vida e obra, ver entrevista no capítulo sobre a Europa).



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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Antônio Moser - «Perda da mística religiosa por trás da pedofilia do clero»

                                                                            Foto: Miguel Madeira / Público

A pedofilia tem muito a ver coma perda da mística religiosa entre o clero, diz Antônio Moser, brasileiro, frade franciscano e teólogo.
Moser critica a ausência de lideranças na Igreja e fala também do muito que há por fazer em relação ao papel da mulher.
Moser, nascido em 1940, é administrador de uma das maiores editoras católicas do mundo, a brasileira Vozes, que publica nomes como os teólogos Leonardo Boff e Gustavo Gutierrez, o filósofo Jean-Paul Sartre ou Ignacio Ramonet, director de Le Monde Diplomatique, a par de obras de religiosidade popular.
Sendo um dos 22 mil frades franciscanos que existem actualmente, frei Antônio Moser gosta de sublinhar o seu papel de construtor de comunidades católicas: já foi responsável por uma dezena e em todas procurou arranjar um espaço físico para que as pessoas se pudessem reunir. «Em todas elas houve uma transformação sociológica», diz, contando a história do primeiro bairro que liderou, em Petrópolis. Conhecida pelo «altíssimo índice de criminalidade», a zona renovou-se a partir da comunidade católica que ali se implantou.
Autor de três dezenas de livros, Moser especializou-se em Teologia Moral. Nas suas obras, já abordou temas tão diferenciados como a ecologia ou o pecado. A relação entre masculino e feminino, a homossexualidade e o auto-erotismo são temas abordados na sua obra.
Diz que é salutar que tenha havido exageros da parte da teologia da libertação. Ele próprio adepto de muitas das teses dessa corrente, admite que houve pressões que ajudaram ao seu silenciamento, mas o factor mais importante terá sido a mudança sociocultural vivida pelo Brasil.
Antônio Moser é também professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (Rio de Janeiro) e membro da Comissão de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.



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