«[...] Deixo alguns fragmentos das homilias de José Augusto Mourão que apontam para a fonte da sua confiança na vitória do impossível: "Que desejamos, afinal, deixando de lado os desejos vulgares que não precisam de um Deus para se satisfazerem? Acima de tudo, não morrer, ou não morrer definitivamente; não perder aqueles que amamos - não dizemos que o amor é mais forte do que a morte? Outro desejo: que a justiça e a paz acabem por triunfar. Outro ainda: alguém que nos ame com bondade".
É um desejo com raízes: "Nós sentimos e experimentamos que somos eternos. Sentimos a vida em nós como aquilo em que vivemos, sabendo que não nos damos esta vida a nós próprios". O filósofo M. Fraijó vem em auxílio dessa convicção: "O cristianismo afirma que a noite não nos surpreenderá. O homem é algo mais do que um breve parêntesis entre duas obscuridades: a do nada, de onde vimos, e a do sepulcro, para onde nos encaminhamos. Toda a história do cristianismo é um denodado esforço contra o nada como meta e como origem." (1)
[...] Ana Cristina da Costa Gomes / José Eduardo Franco (2) e o Padre Tolentino apontaram a direcção para o aprofundamento da obra provocadora deste dominicano: "a impressionante ponte (apetece escrever a 'impossível ponte') que ele, quase marginalmente, desenha entre o campo da fé e o da razão, entre a liturgia e a poética, entre a regra e o desejo. Por alguma razão, ele nunca foi um criador confortável, nem para o campo católico, nem para os parâmetros da cultura dominante".
2) - Dominicanos em Portugal. História, Cultura e Arte, Aletheia, 2010.
Frei Bento Domingues, in Público, 15 de Maio de 2011.
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