«Para situar devidamente o seu pensamento, seria ainda necessário citar toda uma plêiade de autores, seus conterrâneos, e toda uma tradição de investigação científica no campo das disciplinas teológicas e afins, realizada com grande vigor e exigência na pátria do Papa, assim como a conhecida profundidade e vitalidade do pensamento filosófico, profundamente enraizado e intensamente presente em toda a cultura alemã. Também os interesses que Ratzinger sempre partilhou com Hans Urs von Balthasar, no âmbito da literatura e das artes, contribuíram e continuam a contribuir, largamente, para definir a sua riquíssima personalidade cultural. A isso se junta a sua origem na Baviera, numa região não muito afastada da pátria de Mozart, o que poderá porventura explicar a existência, para além das óbvias diferenças, de uma certa afinidade com o músico austríaco, como a clareza e a leveza do seu estilo. Esta aproximação ganha alguma plausibilidade quando sabemos das preferências musicais de Ratzinger, que, além de Mozart, incluem naturalmente também Johann Sebastian Bach, e quando verificamos a semelhança do seu pensamento ao de St. Agostinho, cujo modo de compor tem algo de muito próximo da criação musical, segundo a conhecida interpretação de Henri-Irénée Marrou. As ideias são anunciadas, formuladas, combinadas e desenvolvidas, como se de motivos musicais de uma partitura se tratasse.»
H. Noronha Galvão, in Bento XVI - Um pensamento para o nosso tempo.
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