sábado, 1 de outubro de 2011

«Os peixes de Herberto Helder»


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O jovem autor de “O Peixe Amarelo” prendeu-me ao livro desde a primeira linha, pela determinação, pelo método, pela frescura e pela inteligência. E eu, ao (re)ler os textos, percebi que, depois de dois ou três anos, ganharam maior pertinência. Após o rebentar da bolha imobiliária e do “crash” de Outubro de 2008, as considerações e os comentários ganham uma novíssima actualidade. E começo por falar do título, muito bem caçado, que João Wengorovius Menezes foi buscar a Herberto Helder. Era um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. O artista estava a pintar o peixe, mas foi surpreendido por uma súbita mudança de cor do bicho. De súbito, o peixe tornara-se negro, e o pintor foi obrigado a interromper a obra, já que o preto lhe colocava o problema de formar a “insídia do real”, abrindo um estranho abismo. E assim, o pintor percebeu que o peixe mostrava que apenas existia uma lei – e essa era a lei da metamorfose. “E compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo”. A escolha do título do livro não é inocente, usa, afinal, uma metáfora sobre a atitude de que depende o futuro.
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Guilherme d'Oliveira Martins, «A Vida dos Livros», 15-II-2010.

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