sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Jean-Marie Lustiger - Sem conhecer o judaísmo, o cristianismo fica truncado

Se os cristãos não compreenderem o judaísmo, e a noção de eleição do povo judeu, não compreendem Jesus Cristo. E o problema entre o cristianismo e o judaísmo é essencialmente uma questão da fé dos cristãos. Mas também não será combatendo o islão que o Ocidente se aproximará dessa realidade cultural e religiosa.
Arcebispo de Paris entre 1981 e 2005, quando resignou, o cardeal Jean-Marie Lustiger foi o primeiro de ascendência judaica a ter tais funções na Igreja Católica.
O seu primeiro nome — Aaron — é judeu, mas deixara de ser conhecido como tal desde muito cedo. Aos 14 anos, Jean-Marie Lustiger deixou de se considerar judeu e o seu caminho espiritual levou-o até ao cristianismo, recebendo o baptismo católico. Lustiger contou essa experiência e falou do modo como relacionava a sua fé cristã com o judaísmo das suas origens no livro La Promesse.
Nascido a 17 de Setembro de 1926, em Paris, viu a sua mãe ser levada para o campo de concentração de Auschwitz, onde morreu, durante a II Guerra Mundial. Entrou no seminário ainda em 1944, foi ordenado padre dez anos depois, tornando-se bispo de Orleães em 1979. Dois anos depois foi nomeado para Paris e em 1983, o Papa João Paulo II fê-lo cardeal. Morreu em Agosto de 2007.

«(...) Há uma questão geral colocada ao islão, como cultura e civilização, em paridade com civilizações de origem cristã ou mesmo de civilizações asiáticas. Nos países islâmicos, há estruturas de tipo teocrático. O problema dos séculos futuros é: como é que o islão se vai reformar a si mesmo? Não somos nós que temos que o fazer. São os países do islão que devem fazê-lo.
Sabemos o que se passa, com tantas dificuldades, na Turquia, no Próximo Oriente — em diferentes países como a Síria, o Líbano, a Jordânia e, é claro, o Iraque, que tinha um regime laico —, no Egipto, em todos os países do Magrebe. Vemos como, depois de um século, se tenta chegar à secularidade política. É preciso, para isso, uma reforma interna. E não são os países do Ocidente que vão tomar o lugar do islão. Mas não é combatendo o islão que os países do Ocidente aí chegarão.»


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